quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O pequeno ser do espelho...


Nada mais podia acabar com o olhar daquele espelho em pleno quarto, cuja divisão era tão pequena que nem a própria vontade lá cabia. Foram horas, momentos e segundos perdidos a olhar para algo que só refletia as mentiras. Não eram mentiras de serem vistas ou clarificadas, mas mentiras de ego e sentimento. Não havia uma só estrada que atravessava aquele espelho de um pequeno que o vê, era mais que isso, era o mar perdido que alguém pelo orgulho de ser outra pessoa fazia passar. O espelho só reflete aquilo que não queremos ver, e neste caso foi mais do que isso. Foram memórias passadas e vividas de mágoa cura, foram mentiras que alguém inventou vividas de mágoa fria, afinal foi o horror. Eram pouco mais que setembro meio, quando a escola começara, e que mal começara de forma verdadeira e digna, as memorias desses tempo são poucas, já que a vasta idade que se possuía naquela altura era pouco, ou quase nenhuma. O espelho é manhoso e não consegue transmitir aquilo que realmente passa na memória de uma pessoa, mas vai passando flashes de algo que se pode por em dúvida pelo menos que ouve, lê ou viu. Porquê então serem só flashes e não aquilo que na verdade se vê? São perguntas que um espelho velho irá responder, não sei quando, mas irá. Cada memória vivida é como se esfaqueassem no coração de alguém algo que de cruel aconteceu. Não basta haver atos bons e até uma peça de teatro boa, mas também haver quem os aprecie de forma critica e os resolva. Carrego nas minhas costas o peso da consciência morta de infelicidade, ou simplesmente um fardo de palha que possa ser a vida que ninguém quer. Era uma escola pequena pela sua dimensão, mas grande no seu horror. Não passava de seis anos na altura, mas o espelho dá mais idade a quem a verdade bateu a porta, numa manha de outono em pleno ano cuja gravura mostra. Eram sons, como risos, choros e até toques da campainha. Dias passam, anos passam e pela primeira vez, chega a altura em que se atinge oito anos, numa forma de serem o seu dobro. Era uma pessoa pequena, mas com uma largura extrema, e com uma fantasia extrema, mas será verdade. É isso que o espelho quer mostrar. Foram papéis colados nas costas da alma, foram pontapés dados ao íntimo e ele, sem fazer nada, ali permanecia em virtude das suas pequenas pernas. Foram nomes, ou palavras que nem nomes são, que intitularam e verbalizaram quem ali passava e estava. Talvez pudesse ali existir uma escada para onde se pudesse subir e ser o controlador de tudo, mas isso nunca existiu, pelo menos para aquele pequeno ser que ali circulava, nas mágoas da manha e na virtude do sol. As salas que eram pequenas, com pequenas mesas, não passavam de uma pequena caixa de bonecos em que o boneco maior era a professora. Vindos do exterior o ale de entrada para as salas, eram mais um lugar de convivo numa pequena cozinha, que um local para se lanchar. Aquele pequeno ser nunca fora forte em inteligência, alias ele não era forte em nada, era somente um pequeno ser que fugia a estrutura normal daquilo que era normal ver. E agora que reflete o espelho, o espelho reflete apenas aquilo que a memória não quer que alguém veja. Já o toque dá quando alguém se encontra na sala, aquele tinha sido o dia em que a professora não aparecera para dar aulas e os pequenos seres ficaram a navegar num mar de desejo e vontade. Aconteceram coisas que nem a própria alma quer que seja visto, mas o espelho exige em mostrar. Foram jogos, uns educativos outros nem por isso, mas a brincadeira continuou, sem que anda acontece-se. Acontece, que parte-se um vidro, e este pequeno ser que depois de muita algazarra decide ir-se embora, para o então ginásio. O medo era tanto que nem vontade havia de comer, nem de ir lá para fora. Recorda-se o espelho de alguém ter ficado sentado nuns bancos que lá existiam para quem estava doente, e de uma certa forma aquele pequeno ser estava. Surgem várias recordações, umas mais nítidas, outras nem por isso, mas a verdade que o espelho que traduzir está lá, basta imaginar. Os dias foram passando e o medo aumentando, quando o pequeno ser desiste e acaba por pôr fim aquele que era o seu maior tédio, viver fora do espelho… Assim recorda o espelho…

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