Nada mais
podia acabar com o olhar daquele espelho em pleno quarto, cuja divisão era tão
pequena que nem a própria vontade lá cabia. Foram horas, momentos e segundos
perdidos a olhar para algo que só refletia as mentiras. Não eram mentiras de
serem vistas ou clarificadas, mas mentiras de ego e sentimento. Não havia uma
só estrada que atravessava aquele espelho de um pequeno que o vê, era mais que
isso, era o mar perdido que alguém pelo orgulho de ser outra pessoa fazia
passar. O espelho só reflete aquilo que não queremos ver, e neste caso foi mais
do que isso. Foram memórias passadas e vividas de mágoa cura, foram mentiras
que alguém inventou vividas de mágoa fria, afinal foi o horror. Eram pouco mais
que setembro meio, quando a escola começara, e que mal começara de forma
verdadeira e digna, as memorias desses tempo são poucas, já que a vasta idade
que se possuía naquela altura era pouco, ou quase nenhuma. O espelho é manhoso
e não consegue transmitir aquilo que realmente passa na memória de uma pessoa,
mas vai passando flashes de algo que
se pode por em dúvida pelo menos que ouve, lê ou viu. Porquê então serem só flashes e não aquilo que na verdade se
vê? São perguntas que um espelho velho irá responder, não sei quando, mas irá.
Cada memória vivida é como se esfaqueassem no coração de alguém algo que de
cruel aconteceu. Não basta haver atos bons e até uma peça de teatro boa, mas
também haver quem os aprecie de forma critica e os resolva. Carrego nas minhas
costas o peso da consciência morta de infelicidade, ou simplesmente um fardo de
palha que possa ser a vida que ninguém quer. Era uma escola pequena pela sua
dimensão, mas grande no seu horror. Não passava de seis anos na altura, mas o
espelho dá mais idade a quem a verdade bateu a porta, numa manha de outono em
pleno ano cuja gravura mostra. Eram sons, como risos, choros e até toques da
campainha. Dias passam, anos passam e pela primeira vez, chega a altura em que
se atinge oito anos, numa forma de serem o seu dobro. Era uma pessoa pequena,
mas com uma largura extrema, e com uma fantasia extrema, mas será verdade. É
isso que o espelho quer mostrar. Foram papéis colados nas costas da alma, foram
pontapés dados ao íntimo e ele, sem fazer nada, ali permanecia em virtude das
suas pequenas pernas. Foram nomes, ou palavras que nem nomes são, que
intitularam e verbalizaram quem ali passava e estava. Talvez pudesse ali
existir uma escada para onde se pudesse subir e ser o controlador de tudo, mas
isso nunca existiu, pelo menos para aquele pequeno ser que ali circulava, nas
mágoas da manha e na virtude do sol. As salas que eram pequenas, com pequenas
mesas, não passavam de uma pequena caixa de bonecos em que o boneco maior era a
professora. Vindos do exterior o ale de entrada para as salas, eram mais um
lugar de convivo numa pequena cozinha, que um local para se lanchar. Aquele
pequeno ser nunca fora forte em inteligência, alias ele não era forte em nada,
era somente um pequeno ser que fugia a estrutura normal daquilo que era normal
ver. E agora que reflete o espelho, o espelho reflete apenas aquilo que a memória
não quer que alguém veja. Já o toque dá quando alguém se encontra na sala, aquele
tinha sido o dia em que a professora não aparecera para dar aulas e os pequenos
seres ficaram a navegar num mar de desejo e vontade. Aconteceram coisas que nem
a própria alma quer que seja visto, mas o espelho exige em mostrar. Foram jogos,
uns educativos outros nem por isso, mas a brincadeira continuou, sem que anda acontece-se.
Acontece, que parte-se um vidro, e este pequeno ser que depois de muita algazarra
decide ir-se embora, para o então ginásio. O medo era tanto que nem vontade havia
de comer, nem de ir lá para fora. Recorda-se o espelho de alguém ter ficado sentado
nuns bancos que lá existiam para quem estava doente, e de uma certa forma aquele
pequeno ser estava. Surgem várias recordações, umas mais nítidas, outras nem por
isso, mas a verdade que o espelho que traduzir está lá, basta imaginar. Os dias
foram passando e o medo aumentando, quando o pequeno ser desiste e acaba por pôr
fim aquele que era o seu maior tédio, viver fora do espelho… Assim recorda o espelho…
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