Estou numa sala que outrora fora uma grande
sala. Ouve música, teatro e até revista, mas o que é agora? É um espaço amplo e
vazio, onde o tic tac do relógio influência quem lá esta. Eu sou fraco... Tenho
medo desse tic tac, tenho medo deste silêncio e tenho medo deste triste lugar.
Como pode agora uma sala voltar a nascer? Eu sou a sala que outrora teve o seu
momento de glória, eu sou a música nela tocada, eu sou o repique do relógio a
tocar, eu sou o barulho de um bom teatro e de uma boa revista, mas acima de
tudo eu sou a alma desta sala. Sei que por vezes ouve altos e até mesmo baixos
que ninguém conseguiu evitar, porque quando uma alma é fraca a sua sala é
assim. Já não se ouve música, somente o tocar morto de um relógio. No passado
havia poesia, agora há letras perdidas no tempo. Alguns dos sonhos que lá foram
construídos, agora sentem-se perdidos no tempo. Eu sou um desses sonhos.
Sonhava conhecer algo, e não conheci nada, sonhava viver e ser vivo, e não fui
vivido. E agora? Volta outra vez o tic tac do relógio e o meu medo renasce. Sei
que dentro desta sala está a verdade e a que a mentira, não passa apenas de um
aparte. Todo o repique de um som dado pelo relógio de sala transforma a minha ânsia
de descobrir em medo puro. Fraco... Fraco...É este o som que o relógio
diz. Percorre todos os caminhos desta sala e só vejo pessoa que deveras estão
lá, ou estão e não falam. Consigo ver através de um banco todos os teatros e
musicais aqui feitos, todas as glorias conquistadas e todas as verdades ditas,
mas tudo isto não passam de meras ilusões. Ilusões que sobreviveram ao longe
deste tempo todo, algumas ainda perduram nos camarins e outras simplesmente
navegam como se estivessem num mar agitado. Neste momento o meu coração ouve o
som do relógio, que perdurando tenta furar o meu motor principal. Consigo
visualizar pequenos humanos, que numa doçura tentam representar uma peça e a
minha alma com uma figurada está lá no meio. Tenho medo, diz a minha alma...és
fraco, diz o relógio, e eu o que digo? Nada. Eu sou as paredes fracassadas que
ainda sobrevivem ao fim deste tempo todo, eu sou a tinta que depressa cai, eu
sou o candeeiro velho e sem luz, eu sou todo que naquela sala existe. Tento
ouvir o som do mar, que daquele alçapão saí, mas é simplesmente mais uma das
mentiras que ficaram por revelar, nos tempos de glória. Mais uma vez estou
sentado e volto a ter medo, medo de não ser ouvido e de não ser escutado, medo
de ser mais uma mentira perdida, medo de ser tudo e não ser nada ao mesmo
tempo... Afinal o que sou eu? Eu sou esta sala fraca no corpo de alguém que por
gestos faciais tenta dizer que é forte e feliz, eu sou uma sala abandonada
porque quem pensa que tem a glória, mas só tem a derrota... Eu sou esta sala
fracassa...
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