Esta é a carta que ninguém leu. Escondida em
escombros de memória, numa mala perdida numa floresta de coisas. É assim o sótão
onde se encontra esta carta. Fora escrita já a muitos anos, em que escrever era
uma arte, como pintar. Nela continha uma mensagem verdadeira que ninguém a
queria ler. O seu envelope estava amarelado, velho e rasgado. Quem for a tocar
nessa carta, vai reparar que o seu aspecto não é o mais bonito, como o pôr-do-sol.
A sua cor e textura também não mudam muito, aquela cor douradas nas bordas e
amarelada no centro, faz dele a carta mais velha que reside por debaixo
daqueles escombros todos. Cada monte de escombros que se encontra em cima é
como um monte de pedras que ficou em cima de algo muito valioso. As palavras
que residem dentro dela, não sei como são, a sua data é imprevisível, porque
fora apagada com o tempo. O tempo por sua vez, fez com que ela fosse perdendo
harmonia e ganha-se força pois, não se vê um único rasgo nem uma única dobra.
Será que a carta é verdadeiramente forte? O tempo não sabe contar, quem conta é
o contador, que com uma pequena folha de papel escreve o tempo por cima da
carta. Porque será que cada vez que alguém tenta ler a carta, ninguém consegue?
Será que as suas palavras são demasiado reais para alguém as ver? Não sei, sei
que naquela mala perdida naquela floresta de coisas, mora uma carta que ninguém
leu. Ninguém leu também os seus sentimentos, porque aquela é uma carta com
sentimentos, cada letra escrita no envelope fora escrita em tempos em que o
amor residia não só como sentimento, e no coração, mas como palavras e na boca.
É uma carta perdida no tempo e no lugar, porque a verdade é que nem sempre
esteve debaixo daqueles escombros. Em tempos viajou e voou, viveu e sorriu,
cresceu e voltou a crescer, ficou seca e molhada, é uma carta que já viu o
mundo, mas porque será que nunca foi vista? A verdade é que aquela carta são os
olhos dos sentimentos e de uma forma nunca fora lida, porque os olhos dos
sentimentos residem em cada um de nós, assim como as palavras surgem de dentro
de nós pois, o que seria de uma pessoa sem palavras? Nada, seria como um jardim
sem flor. Pode ser uma carta que ninguém leu, mas é uma carta que já viveu e
continua a viver dentro de cada um de nós, por isso é uma carta que ninguém
leu, porque nós já somos essa carta...
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