sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A Carta que ninguém leu...


Esta é a carta que ninguém leu. Escondida em escombros de memória, numa mala perdida numa floresta de coisas. É assim o sótão onde se encontra esta carta. Fora escrita já a muitos anos, em que escrever era uma arte, como pintar. Nela continha uma mensagem verdadeira que ninguém a queria ler. O seu envelope estava amarelado, velho e rasgado. Quem for a tocar nessa carta, vai reparar que o seu aspecto não é o mais bonito, como o pôr-do-sol. A sua cor e textura também não mudam muito, aquela cor douradas nas bordas e amarelada no centro, faz dele a carta mais velha que reside por debaixo daqueles escombros todos. Cada monte de escombros que se encontra em cima é como um monte de pedras que ficou em cima de algo muito valioso. As palavras que residem dentro dela, não sei como são, a sua data é imprevisível, porque fora apagada com o tempo. O tempo por sua vez, fez com que ela fosse perdendo harmonia e ganha-se força pois, não se vê um único rasgo nem uma única dobra. Será que a carta é verdadeiramente forte? O tempo não sabe contar, quem conta é o contador, que com uma pequena folha de papel escreve o tempo por cima da carta. Porque será que cada vez que alguém tenta ler a carta, ninguém consegue? Será que as suas palavras são demasiado reais para alguém as ver? Não sei, sei que naquela mala perdida naquela floresta de coisas, mora uma carta que ninguém leu. Ninguém leu também os seus sentimentos, porque aquela é uma carta com sentimentos, cada letra escrita no envelope fora escrita em tempos em que o amor residia não só como sentimento, e no coração, mas como palavras e na boca. É uma carta perdida no tempo e no lugar, porque a verdade é que nem sempre esteve debaixo daqueles escombros. Em tempos viajou e voou, viveu e sorriu, cresceu e voltou a crescer, ficou seca e molhada, é uma carta que já viu o mundo, mas porque será que nunca foi vista? A verdade é que aquela carta são os olhos dos sentimentos e de uma forma nunca fora lida, porque os olhos dos sentimentos residem em cada um de nós, assim como as palavras surgem de dentro de nós pois, o que seria de uma pessoa sem palavras? Nada, seria como um jardim sem flor. Pode ser uma carta que ninguém leu, mas é uma carta que já viveu e continua a viver dentro de cada um de nós, por isso é uma carta que ninguém leu, porque nós já somos essa carta...

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