Não queria,
mas sou. Não tentei, mas acabei por ser. Não escrevi, mas alguém escreveu. Eu
não sou nada, sou meramente um pedaço de alguém que pelo solo caminha. Foi
escrito por alguém me deu a devida atenção, mas foi negado por sentimentos
adversos ao meu coração. A minha alma não sente, por alguém assim a escreveu,
mas o meu coração chora, porque alguém assim o fez ter lágrimas. Corre pelo
universo de formas e frases de atos e teatros em que eu sou um mero personagem
secundário, em que só sirvo para tapar os buracos que alguém deixou. Vivo num
lugar onde a minha virtude é posta de lado em detrimento de outras virtudes que
se assemelham a minha, mas que alguém acha-as melhor. Sinto que foi escrito por
alguém sem coração, por uma máquina irracional, que o veneno a matou, mas por
vezes sinto-me o rei de um reino sem futuro, onde a alma é o castelo e o íntimo
é a porta desse mesmo castelo. Volto atrás no tempo para descobrir quem me
escreveu assim, mas sem sucesso porque o sucesso não se mede, mas constrói-se
sem favor de uma alma que o amor aceita. Parece confuso, mas sinto-me a cola
que tudo junta a favor da sua força. Pego em papéis e escrevo aquilo que o
íntimo pede e dobro conforme a alma aceita. Eu sou o paraíso deste cume que a alma
pede, mas sinto-me o intermédio de um caminho que o amor em forma de pedaços
constrói. Ser paraíso ou não é uma questão que a alma não quer responder pela
saudade de uma bem perdido. Esse bem perdido é a sua inspiração que num dia de
primavera decidiu partir e deixar de ser escrito por alguém. Já desisti de tudo
que o intimo pede e de tudo que a alma conquista, já desisti de conquistar este
mundo que outrora fora de todos e que numa tentativa de gloria eu tentei
arrecada-lo para mim. Após vários papéis escritos e dobrados eu fico a nora,
como um barco desamarrado se encontra em pleno oceano depois do término da
tempestade. Sou as ondas que alguém criou, sou a forma do barco que alguém
detestou, sou a escritura que alguém enterrou, mas simplesmente eu sou tudo e
não consigo ser nada, porque a alma é conquistadora e o íntimo é construtor e
porque eu sinto-me perdido no meio do mundo que não consegui conquistar. Assim
sinto que alma escreve após a morte da sua inspiração que o íntimo afogou...
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