Está o pobre velho sentado em frente da sua fogueira a aquecer os
seus penantes, como já dizia o seu pobre pai. Cada palavra que vem a memória do
pobre velho, faz-lhe voltar em pensamento as suas harmoniosas memórias. Recorda
o pobre velho, a noite em que o seu pai chegara do trabalho. Eram sete horas da
tarde e por essa hora o seu pai já deveria de ter chegado a um bom bocado. O
nervosismo e a tenção frisavam a cara da sua mãe. A sua mãe era uma pessoa
dócil e bonita, em tempos de chuva os seus olhos eram da cor da terra húmida e
em tempos de sol os seus olhos eram da cor da terra seca. A demora do seu pai
fez com que o maravilhoso momento de jantar fosse estragado. O tic tac do
relógio era cada vez maior e sem a chegada do pai. Já não era a primeira nem a
segunda vez que o seu pai tinha feito aquilo. O aconchego para o jantar chegara
então. Eram as nove da noite e sem a chegada do pai. A preocupação não só
crescia no íntimo da sua mãe como nele próprio. Acorda de repente o pobre velho
com frio nos pés, e sem perder mais tempo, vai depressa buscar mais canhotas
para aquecer os seus velhos pés. Essa demora foi pouca e não tardou a voltar a
sonhar. A refeição tinha terminado e a chegada do pai nunca mais estava a
vista. Ao canto do olho da sua mãe, a pequena criança podia ver uma pequena
lágrima que com pressa queria sair do olho da sua mãe. Toca a badalada das onze
horas, e o seu pai entra pela porta da casa adentro. A cara dele estava
vermelha. Mais uma vez o pobre velho acorda da sua recordação, mas desta vez
não por ter os pés frios, mas sim para ir buscar um guardanapo para limpar cada
lágrima que escorria da sua velha cara. O cansaço que ele podia ver no seu pai
era demasiado, continua-se recordando o pobre velho, por outro lado a cara de
alívio da mãe inspirava confiança na pobre criança para perguntar ao pai onde
ele tinha estado. A demora do seu pai fora tanta porque ele tinha estado a
construir uma grande e bela lareira para quando o frio fosse a mais, todos sem
excepção pudessem aquecer os seus pés. O que mais faz renascer estas lembranças
ao pobre velho é o facto do seu humilde pai ter demorado horas a fio a
construir esta grande e bela lareira e o facto de seu pai não dizer "pés
frios", mas sim "penantes frios". Cada lembrança deste dia, faz
com que o pobre velho fique ali horas a fio a ouvir os pequenos foguetes que
saem daquela lareira que outrora aqueceu muitos penantes e que agora aquece
aqueles pobres é velhos pés... Assim recorda o pobre velho...
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