Tenho uma caixa que não abre, tenho-a guardada no fundo dos forros do meu corpo. Só tem aranhas e mais aranhas que me fecham ainda mais a caixa, e que a trancam mais ainda no fundo. Ela contrapõem-se com o meu aro da juventude, este aro corrompido de tanto sal que lhe caí, este aro que só tem ferrugem e que não é mais torto porque a caixa assim o segura e o ampara. Podia fazer um paralelismo entre esta caixa e este aro, mas não consigo, porquê? Porque não existe um paralelismo possível, porque esta caixa habita dentro de mim e se fosse fazer este paralelismo teria que quebra-la, mas não sou capaz de a quebrar. Dentro dela tem as minhas belas e harmoniosas recordações que sempre que me lembro delas, toca como que uma melodia dentro de mim, que não há instrumento nenhum que o consiga fazer, porque ela toca diferentes melodias, cada qual com um som diferente e cada qual de forma e cor diferentes. Tenho nos meus forros esta caixa e este aro, simplesmente ficam presos, porque não há modo e maneira de tira-los de onde se encontram porque as finas linhas das aranhas fazem com que todo o que lá exista fique preso. Esta caixa é de grande valor e não há nada nem ninguém que a possa abrir, porque já tentei tudo... Já cantei, já escrevi, já recitei, já reflecti, mas acima de tudo, já a amei como a tinha que amar. Procurarei mil e uma, ou duas mil e duas, formas de a abrir, porque ela é minha e por mais que ela ria e chore de saudades daquele lugar, não irei parar, porque parar não serve para mim. A luta de palavras que iram surgir perguntar retóricas irá continuar, porque essa caixa é minha e de lá tirarei essas recordações. Esses forros são maus e cruéis, mas eu não me deixarei sair vencido, porque se sair vencido terei não só perdido a guerra e a batalha e desta batalha e guerra não saírem derrotado, mas sim vencedor...porque ela é minha e por mais que estejam quarenta mil aros a prender-me não desistirei....Abre-te caixa de uma vez por todas...Abre-te...
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